As pessoas que estabelecem contato com pessoas comdeficiência visual, seja de
forma ocasional ou regular, revelam-se de um modo geral inseguras sobre como
agir diante das diferentes situações que possam ocorrer.
É importante, antes de tudo considerar que a convivência em qualquer nível ou
dimensão, constitui tarefa complexa. Implica em negociações, concessões, acordos
e ajustes. Não por outro motivo, todas as sociedades humanas, em qualquer tempo
histórico, trataram de elaborar e implementar códigos de etiqueta, encarregados
de dirigir harmoniosamente as relações, amenizando o confronto das diferenças,
desafio constante na invenção do cotidiano.
Nos casos onde a diferenciação social se dá através de marcas inscritas no
corpo, tais estigmas podem tornar-se emblemáticas, enviesando todo processo de
interação. Em tais circunstâncias, desinformação, falta de esclarecimentos,
estereótipos e as fantasias que daí derivam, dificultam ainda mais o convívio
com pessoas com deficiência.
A lista que reproduzimos a seguir, sobre o título "Cuidados no relacionamento
com pessoas cegas", é uma espécie de código de etiqueta no qual a relação com as
pessoas comdeficiência visual, recebe uma orientação básica,
desenhada pelo negativo. Dizendo o que não se deve fazer no contato com o
deficiente visual, define-se, em linhas gerais, um modo de tratamento adequado
às interações das quais ele participa. As possibilidades de interação humana são
muito amplas e as soluções encontradas pelos grupos para o convívio social
harmônico sem dúvida ultrapassam em muito as situações contempladas na listagem
de Robert Atkinson, diretor do Braille Institute of America - California. Esta
porém, sem dúvida proporciona orientações essenciais para um primeiro e,
eventualmente, duradouro contato, virtude suficiente para, após adaptá-la à
realidade cultural brasileira, republicá-las neste espaço.
01 - Não trate as pessoas cegas como seres diferentes somente porque não podem
ver. Saiba que elas estão sempre interessadas no que você gosta de ver, de ler,
de ouvir e falar.
02 - Não generalize aspectos positivos ou negativos de uma pessoa cega que você
conheça, estendendo-os a outros cegos. Não se esqueça de que a natureza dotou a
todos os seres de diferenças individuais mais ou menos acentuadas e de que os
preconceitos se originam na generalização de qualidades, positivas ou negativas,
consideradas particularmente.
03 - Procure não limitar a pessoa cega mais do que a própria cegueira o faz,
impedindo-a de realizar o que sabe, pode e deve fazer sozinha.
04 - Não se dirija a uma pessoa cega chamando-a de "cego" ou "ceguinho"; é
falta elementar de educação, podendo mesmo constituir ofensa, chamar alguém pela
palavra designativa de sua deficiência sensorial, física, moral ou intelectual.
05 - Não fale com a pessoa cega como se fosse surda; o fato de não ver não
significa que não ouça bem.
06 - Não se refira à cegueira como desgraça. Ela pode ser assim encarada logo
após a perda da visão, mas, a orientação adequada consegue reduzi-la a
deficiência superável, como acontece em muitos casos.
07 - Não diga que tem pena de pessoa cega, nem lhe mostre exagerada
solidariedade. O que ela quer é ser tratada com igualdade.
08 - Não exclame "maravilhoso"... "extraordinário"... ao ver a pessoa cega
consultar o relógio, discar o telefone ou assinar o nome.
09 - Não fale de "sexto sentido" nem de "compensação da natureza" - isso
perpetua conceitos errôneo. O que há na pessoa cega é simples desenvolvimento de
recursos mentais latentes em todas as criaturas.
10 - Não modifique a linguagem para evitar a palavra ver e substituí-la por
ouvir. Conversando sobre a cegueira com quem não vê, use a palavra cego sem
rodeios.
11 - Não deixe de oferecer auxílio à pessoa cega que esteja querendo atravessar
a rua ou tomar condução. Ainda que seu oferecimento seja recusado ou mesmo mal
recebido por algumas delas, esteja certo de que a maioria lhe agradecerá o
gesto.
12 - Não suponha que a pessoa cega possa localizar a porta onde deseja entrar
ou o lugar aonde queira ir, contando os passos.
13 - Não tenha constrangimento em receber ajuda, admitir colaboração ou aceitar
gentilezas por parte de alguma pessoa cega. Tenha sempre em mente que a
solidariedade humana deve ser praticada por todos e que ninguém é tão incapaz
que não tenha algo para dar.
14 - Não se dirija à pessoa cega através de seu guia ou companheiro, admitindo
assim que ela não tenha condição de compreendê-lo e de expressar-se.
15 - Não guie a pessoa cega empurando-a ou puxando-a pelo braço. Basta deixá-la
segurar seu braço, que o movimento de seu corpo lhe dará a orientação de que
precisa. Nas passagens estreitas, tome a frente e deixe-a segui-lo, mesmo com a
mão em seu ombro.
16 - Quando passear com a pessoa cega que já estiver acompanhada, não a pegue
pelo outro braço, nem lhe fique dando avisos. Deixe-a ser orientada só por quem
a estiver guiando.
17 - Não carregue a pessoa cega ao ajudá-la a atravessar a rua, tomar condução,
subir ou descer escadas. Basta guiá-la, pôr-lhe a mão no corrimão.
18 - Não pegue a pessoa cega pelos braços rodando com ela para pô-la na posição
de sentar-se, empurrando-a depois para a cadeira. Basta pôr-lhe a mão no
espaldar ou no braço da cadeira, que isso lhe indicará sua posição.
19 - Não guie a pessoa cega em diagonal ao atravessar em cruzamento. Isso pode
fazê-la perder a orientação.
20 - Não diga apenas "à direita", "à esquerda", ao procurar orientar uma pessoa
cega à distância. Muitos se enganam ao tomarem como referência a própria posição
e não a da pessoa cega que caminha em sentido contrário ao seu.
21 - Não deixe portas e janelas entreabertas onde haja alguma pessoa cega.
Conserve-as sempre fechadas ou bem encostadas à parede, quando abertas. A portas
e janelas meio abertas costituem obstáculos muito perigosos para ela.
22 - Não deixe objetos no caminho por onde uma pessoa cega costuma passar.
23 - Não bata a porta do automóvel onde haja uma pessoa cega sem ter a certeza
de que não lhe vai prender os dedos.
24 - Não deixe de se anunciar ao entrar no recinto onde haja pessoas cegas,
isso auxilia a sua identificação.
25 - Não saia de repente quando estiver conversando com uma pessoa cega,
principalmente se houver algo que a impeça de perceber seu afastamento. Ela pode
dirigir-lhe a palavra e ver-se na situação desagradável de falar sozinha.
26 - Não deixe de apertar a mão de uma pessoa cega ao encontrá-la ou ao
despedir-se dela. O aperto de mão substitui para ela o sorriso amável.
27 - Não perca seu tempo nem o da pessoa cega perguntando-lhe: "Sabe quem sou
eu?"... "Veja se adivinha quem sou?". Identifique-se ao chegar.
28 - Não deixe de apresentar o seu visitante cego a todas as pessoas presentes,
assim procedendo, você facilitará a integração dele ao grupo.
29 - Ao conduzir uma pessoa cega a um ambiente que lhe é desconhecido,
oriente-a de modo que possa locomover-se sozinha.
30 - Não se constranja em alertar a pessoa cega quanto a qualquer incorreção no
seu vestuário.
31 - Informe a pessoa cega com relação à posição dos alimentos colocados em seu
prato.
32 - Não encha a xícara ou o copo da pessoa cega até a beirada. Neste caso ela
terá dificuldades em mantê-los equilibrados.
33 - O pedestre cego é muito mais observador que os outros. Ele desenvolve
meios e modos de saber onde está e para onde vai, sem precisar estar contando os
passos. Antes de sair de casa, ele faz o que toda gente deveria fazer: procura
informar-se bem sobre o caminho a seguir para chegar ao seu destino. Na primeira
caminhada poderá errar um pouco, mas depois raramente se enganará. Saliências,
depressões, ruídos e odores característicos, ele observa para sua maior
orientação.
Robert Atkinson (Diretor do Braille Institute of America, California) -
Adaptação feita pela equipe técnica da Divisão de Documentação e Informação do
Departamento Técnico-Especializado e da Divisão de Reabilitação do Departamento
de Atendimento Médico, Nutricional e de Reabilitação do Instituto Benjamin Constant, contanto com a participação da Associação Brasileira de Educadores de
Deficientes Visuais.
Fonte:Instituto Benjamin Constant.
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