domingo, 2 de junho de 2013

Cuidados no relacionamento com deficientes visuais






As pessoas que estabelecem contato com pessoas comdeficiência visual, seja de

forma ocasional ou regular, revelam-se de um modo geral inseguras sobre como

agir diante das diferentes situações que possam ocorrer.


É importante, antes de tudo considerar que a convivência em qualquer nível ou

dimensão, constitui tarefa complexa. Implica em negociações, concessões, acordos

e ajustes. Não por outro motivo, todas as sociedades humanas, em qualquer tempo

histórico, trataram de elaborar e implementar códigos de etiqueta, encarregados

de dirigir harmoniosamente as relações, amenizando o confronto das diferenças,

desafio constante na invenção do cotidiano.


Nos casos onde a diferenciação social se dá através de marcas inscritas no

corpo, tais estigmas podem tornar-se emblemáticas, enviesando todo processo de

interação. Em tais circunstâncias, desinformação, falta de esclarecimentos,

estereótipos e as fantasias que daí derivam, dificultam ainda mais o convívio

com pessoas com deficiência.


A lista que reproduzimos a seguir, sobre o título "Cuidados no relacionamento

com pessoas cegas", é uma espécie de código de etiqueta no qual a relação com as

pessoas comdeficiência visual, recebe uma orientação básica,

desenhada pelo negativo. Dizendo o que não se deve fazer no contato com o

deficiente visual, define-se, em linhas gerais, um modo de tratamento adequado

às interações das quais ele participa. As possibilidades de interação humana são

muito amplas e as soluções encontradas pelos grupos para o convívio social

harmônico sem dúvida ultrapassam em muito as situações contempladas na listagem

de Robert Atkinson, diretor do Braille Institute of America - California. Esta

porém, sem dúvida proporciona orientações essenciais para um primeiro e,

eventualmente, duradouro contato, virtude suficiente para, após adaptá-la à

realidade cultural brasileira, republicá-las neste espaço.


01 - Não trate as pessoas cegas como seres diferentes somente porque não podem

ver. Saiba que elas estão sempre interessadas no que você gosta de ver, de ler,

de ouvir e falar.


02 - Não generalize aspectos positivos ou negativos de uma pessoa cega que você

conheça, estendendo-os a outros cegos. Não se esqueça de que a natureza dotou a

todos os seres de diferenças individuais mais ou menos acentuadas e de que os

preconceitos se originam na generalização de qualidades, positivas ou negativas,

consideradas particularmente.


03 - Procure não limitar a pessoa cega mais do que a própria cegueira o faz,

impedindo-a de realizar o que sabe, pode e deve fazer sozinha.


04 - Não se dirija a uma pessoa cega chamando-a de "cego" ou "ceguinho"; é

falta elementar de educação, podendo mesmo constituir ofensa, chamar alguém pela

palavra designativa de sua deficiência sensorial, física, moral ou intelectual.


05 - Não fale com a pessoa cega como se fosse surda; o fato de não ver não

significa que não ouça bem.


06 - Não se refira à cegueira como desgraça. Ela pode ser assim encarada logo

após a perda da visão, mas, a orientação adequada consegue reduzi-la a

deficiência superável, como acontece em muitos casos.


07 - Não diga que tem pena de pessoa cega, nem lhe mostre exagerada

solidariedade. O que ela quer é ser tratada com igualdade.


08 - Não exclame "maravilhoso"... "extraordinário"... ao ver a pessoa cega

consultar o relógio, discar o telefone ou assinar o nome.


09 - Não fale de "sexto sentido" nem de "compensação da natureza" - isso

perpetua conceitos errôneo. O que há na pessoa cega é simples desenvolvimento de

recursos mentais latentes em todas as criaturas.


10 - Não modifique a linguagem para evitar a palavra ver e substituí-la por

ouvir. Conversando sobre a cegueira com quem não vê, use a palavra cego sem

rodeios.


11 - Não deixe de oferecer auxílio à pessoa cega que esteja querendo atravessar

a rua ou tomar condução. Ainda que seu oferecimento seja recusado ou mesmo mal

recebido por algumas delas, esteja certo de que a maioria lhe agradecerá o

gesto.


12 - Não suponha que a pessoa cega possa localizar a porta onde deseja entrar

ou o lugar aonde queira ir, contando os passos.


13 - Não tenha constrangimento em receber ajuda, admitir colaboração ou aceitar

gentilezas por parte de alguma pessoa cega. Tenha sempre em mente que a

solidariedade humana deve ser praticada por todos e que ninguém é tão incapaz

que não tenha algo para dar.


14 - Não se dirija à pessoa cega através de seu guia ou companheiro, admitindo

assim que ela não tenha condição de compreendê-lo e de expressar-se.


15 - Não guie a pessoa cega empurando-a ou puxando-a pelo braço. Basta deixá-la

segurar seu braço, que o movimento de seu corpo lhe dará a orientação de que

precisa. Nas passagens estreitas, tome a frente e deixe-a segui-lo, mesmo com a

mão em seu ombro.


16 - Quando passear com a pessoa cega que já estiver acompanhada, não a pegue

pelo outro braço, nem lhe fique dando avisos. Deixe-a ser orientada só por quem

a estiver guiando.


17 - Não carregue a pessoa cega ao ajudá-la a atravessar a rua, tomar condução,

subir ou descer escadas. Basta guiá-la, pôr-lhe a mão no corrimão.


18 - Não pegue a pessoa cega pelos braços rodando com ela para pô-la na posição

de sentar-se, empurrando-a depois para a cadeira. Basta pôr-lhe a mão no

espaldar ou no braço da cadeira, que isso lhe indicará sua posição.


19 - Não guie a pessoa cega em diagonal ao atravessar em cruzamento. Isso pode

fazê-la perder a orientação.


20 - Não diga apenas "à direita", "à esquerda", ao procurar orientar uma pessoa

cega à distância. Muitos se enganam ao tomarem como referência a própria posição

e não a da pessoa cega que caminha em sentido contrário ao seu.


21 - Não deixe portas e janelas entreabertas onde haja alguma pessoa cega.

Conserve-as sempre fechadas ou bem encostadas à parede, quando abertas. A portas

e janelas meio abertas costituem obstáculos muito perigosos para ela.


22 - Não deixe objetos no caminho por onde uma pessoa cega costuma passar.


23 - Não bata a porta do automóvel onde haja uma pessoa cega sem ter a certeza

de que não lhe vai prender os dedos.


24 - Não deixe de se anunciar ao entrar no recinto onde haja pessoas cegas,

isso auxilia a sua identificação.


25 - Não saia de repente quando estiver conversando com uma pessoa cega,

principalmente se houver algo que a impeça de perceber seu afastamento. Ela pode

dirigir-lhe a palavra e ver-se na situação desagradável de falar sozinha.


26 - Não deixe de apertar a mão de uma pessoa cega ao encontrá-la ou ao

despedir-se dela. O aperto de mão substitui para ela o sorriso amável.


27 - Não perca seu tempo nem o da pessoa cega perguntando-lhe: "Sabe quem sou

eu?"... "Veja se adivinha quem sou?". Identifique-se ao chegar.


28 - Não deixe de apresentar o seu visitante cego a todas as pessoas presentes,

assim procedendo, você facilitará a integração dele ao grupo.


29 - Ao conduzir uma pessoa cega a um ambiente que lhe é desconhecido,

oriente-a de modo que possa locomover-se sozinha.


30 - Não se constranja em alertar a pessoa cega quanto a qualquer incorreção no

seu vestuário.


31 - Informe a pessoa cega com relação à posição dos alimentos colocados em seu

prato.


32 - Não encha a xícara ou o copo da pessoa cega até a beirada. Neste caso ela

terá dificuldades em mantê-los equilibrados.


33 - O pedestre cego é muito mais observador que os outros. Ele desenvolve

meios e modos de saber onde está e para onde vai, sem precisar estar contando os

passos. Antes de sair de casa, ele faz o que toda gente deveria fazer: procura

informar-se bem sobre o caminho a seguir para chegar ao seu destino. Na primeira

caminhada poderá errar um pouco, mas depois raramente se enganará. Saliências,

depressões, ruídos e odores característicos, ele observa para sua maior

orientação.


Robert Atkinson (Diretor do Braille Institute of America, California) -

Adaptação feita pela equipe técnica da Divisão de Documentação e Informação do

Departamento Técnico-Especializado e da Divisão de Reabilitação do Departamento

de Atendimento Médico, Nutricional e de Reabilitação do Instituto Benjamin Constant, contanto com a participação da Associação Brasileira de Educadores de

Deficientes Visuais.

Fonte:Instituto Benjamin Constant.

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