quarta-feira, 5 de junho de 2013

O Modelo Medico e Modelo Social da Deficiência

Atualmente no  movimento de  luta  das  PcD os termos: acessibilidade, desvantagem, Desenho Universal, Vida Independente, inclusão – são os mais discutidos

em nossos  dias,  mas como isso começou? Esses conceitos são novos? Então, como era a vida antes deles?

Desde o início da Humanidade há pessoas com deficiência. Afinal, essa é uma das possibilidades do ser humano, que pode assumir múltiplas características

de altura, cor de pele, de olhos e outras tantas. Ao longo da História, a forma como a deficiência foi vista pela Sociedade mudou muito: houve momentos

de eliminação, de abandono e outros de respeito e quase veneração, pois era considerada um sinal de contato com os deuses. Alguns povos achavam, por exemplo,

que o cego não enxergava "para fora", mas sim "para dentro", ou seja, se relacionava com as divindades. O oposto também foi verdadeiro, em alguns locais

e épocas: a deficiência era considerada um castigo, um sinal de ruindade, da pessoa ou de sua família. O tempo passou e as concepções foram mudando, não

apenas em relação às pessoas com deficiência, mas também em relação aos índios, aos negros, aos ciganos, às mulheres, idosos e outros segmentos considerados

"minoritários".

"No período entre as guerras mundiais, foi se consolidando o que hoje percebemos como modelo (ou paradigma) e que assumiu contornos mais definidos após

a Segunda Guerra Mundial. De acordo com essa concepção, o "problema" estava no indivíduo (a pessoa com deficiência), já que é na sua deficiência (física,

mental ou sensorial) e em sua falta de habilidade que reside a origem de suas dificuldades. Portanto, é a pessoa que deve ajustar-se e adaptar-se à sociedade,

tal como ela é.

Para fazer este ajustamento à sociedade era preciso contar com a intervenção profissional de um conjunto de especialistas (a equipe de reabilitação: médico,

fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, psicólogo, assistente social e outros), que vão cuidar do "problema" através da reabilitação".

Para entender a razão do surgimento desse modelo, vale lembrar que as guerras "produziram" um número extremamente alto de pessoas com deficiência, que

precisavam ser tratadas e reinseridas na vida social. Eram heróis de guerra, que haviam perdido uma perna, a visão ou tinham outras seqüelas adquiridas

na defesa da Pátria e, portanto, mereciam consideração, atenção e cuidados.

Surge, então, o conceito de reabilitação e de suas diferentes áreas: Terapia Ocupacional, Fisioterapia e outros. É curioso constatar, olhando as fotos

das primeiras turmas de formandos de Terapia Ocupacional, nos Estados Unidos, que seu uniforme tinha um estilo militar. Essa equipe de reabilitação, de

formação multidisciplinar e geralmente liderada por um médico praticamente "se apropria" da pessoa com deficiência e passa a cuidar dela, pois "sabe o

que é melhor". Esse cuidar acaba se estendendo a toda a vida da pessoa, não apenas aos aspectos relacionados à sua reabilitação. A pessoa com deficiência

é vista, literalmente, como um "paciente", que deveria se submeter passivamente às orientações da equipe, assim como a família. Ser paciente significava,

entre outras coisas, não ter voz e nem querer, por não ter o saber médico.

São essas características, essa forma de compreender a deficiência e de interagir com a pessoa que recebem o nome de "modelo médico". Apesar de seus limites,

esse paradigma representou um avanço importante e prestou (e ainda presta) valiosos serviços a muitas pessoas. Sua aplicação significou melhoras relativas

na qualidade de vida de muitos, além de imprimir uma marca positiva em trabalhos como a Classificação Internacional de Deficiências, Incapacidades e Desvantagens

da Organização Mundial da Saúde (OMS).


 

O modelo social.


 

O tempo passa, o mundo dá voltas e as formas de compreender os fenômenos sociais também mudam. Gradualmente, foi se desenvolvendo o modelo social, como

uma resposta ao anterior. Ele transfere o foco da responsabilidade para as adaptações que devemos fazer na sociedade, reconhecendo que as principais barreiras

que as pessoas com deficiência enfrentam são o preconceito, a discriminação e os ambientes sem acessibilidade, porque estes foram criados a partir da concepção

idealizada de uma pessoa normal, do "homem perfeito", desenhado por Leonardo da Vinci.

Embora os problemas apontados por esse modelo sejam verdadeiros e infelizmente existam até hoje (discriminação, preconceito e obstáculos), eles não são

os únicos que devem ser levados em conta, para assegurar a acessibilidade ao meio físico e também a inclusão. Como vimos acima, para que exista acessibilidade

não basta construir rampas. Com o tempo, o entendimento da questão foi se ampliando, graças à prática das organizações de pessoas com deficiência, das

discussões de estudiosos, militantes e pesquisadores, que se traduziam em leis, da elaboração de Declarações de Princípios e pela ocupação de espaços na

vida social, por essas pessoas. O modelo da autonomia pessoal ou "vida independente" Como mencionado, esse modelo nasceu nos Estados Unidos, com a participação

ativa de pessoas com deficiência desse país. Ele se forma no âmbito da luta dos pacifistas, do movimento feminista, dos hippies e da luta dos negros por

seus direitos civis. Seu enfoque é completamente diferente do modelo médico. Desse ponto de vista, a deficiência não é tratada como incapacidade ou falta

de habilidade, nem é o objetivo final que se deseja conquistar. O foco dos programas e ações desenvolvidos no âmbito do modelo de autonomia está na situação

de dependência do sujeito ante os demais. O problema está no entorno e é nele que acontece o processo de reabilitação. É no social que, muitas vezes, se

produz ou se desenvolve a situação de dependência da pessoa com deficiência em relação aos demais. O conceito de Vida Independente ecoou (e continua a

ecoar) nos corações e mentes das pessoas com deficiência, em diversos cantos do planeta, dando origem a CVIs - Centros de Vida Independente. No Brasil,

há pouco mais de 20 CVIs, coordenados pelo CVI Brasil; o mais recente foi fundado no Amazonas. Aqui e agora.

Vivemos, no Brasil e também em outros países, um momento de conscientização e de sensibilização da sociedade frente à Deficiência: as escolas começam a

abrir suas portas para acolher crianças até então não admitidas como alunos, cultivando a convivência e o respeito à diferença desde cedo; as empresas

tomam consciência dos talentos, dos recursos, da criatividade e da eficiência destas pessoas; estabelecimentos comerciais percebem que elas são consumidoras

em potencial e, portanto, devem ser tratadas como tal. Teatros, cinemas e espaços culturais percebem que há públicos a serem conquistados. Novelas têm

pessoas com deficiência como protagonistas, vivenciando situações inspiradas na vida real e que despertam o interesse dos telespectadores. É comum ouvirmos,

no dia seguinte, pessoas comentando o capítulo anterior, no ônibus, no trabalho, na padaria, evidenciando que o conteúdo da novela está "mexendo com elas",

fazendo-as refletir sobre assuntos que provavelmente desconheciam, até então. Um dos fatores facilitadores dessa mudança é a Informação. Ela tem-se revelado

uma das ferramentas mais eficazes neste processo rumo à Acessibilidade, combatendo preconceitos e neutralizando estigmas. Dada sua importância, é preciso

facilitar o acesso das pessoas à Informação, investir na sua capacitação para que saibam onde buscá-la, como filtrá-la e utilizá-la para serem cidadãos

atuantes e conscientes.

Vivemos na Sociedade da Informação; nela, para sobreviver, é fundamental ter acesso à informação, saber lidar com ela, saber consumi-la e manejar os instrumentos

e meios a ela ligados, dentre os quais se destaca a informática. A Informação, como as moedas, tem uma outra face, que é a Comunicação; elas são complementares.

Não adianta apenas ter acesso à Informação; ela precisa ser divulgada. Informação que não circula não tem valor. E, para que a Comunicação aconteça, é

preciso ter o que dizer.

As pessoas  com deficiência  ainda vivem  sob  a  insígnia do preconceito, pois  a partir de  suas construções culturais, a  sociedade colabora para a

formação de um  inconsciente coletivo, que as descartam da condição de seres humanos. Por isso foram elaboradas formas de identificar  e tratar os deficientes

que se tornaram modelos ao longo da história do mundo e do Brasil. .

E  apesar  de  terem  surgido  em  épocas  distintas,  todos  os  paradigmas  que  envolvem  as  questões da deficiência perduram até o presente, pois a

pesquisa mostrou que ainda prevalecem  as  práticas  de  rejeição,  eliminação  e  exclusão  social. Também se constatou que muitas das expressões

da questão social levam  a aquisição de um corpo com lesão. Por isso a população pobre é a mais afetada neste sentido.

Mas os novos paradigmas trazem a reflexão de que a deficiência é apenas uma expressão  da natureza humana e deve ser encarada como outra maneira de estar

no mundo. Ademais essa experiência faz parte do ciclo da vida do ser humano, que pode ser provocada pelos incidentes diários, que compõem o universo

do  inesperado,  ou  do  esperado,  como  a  chegada  do  envelhecimento e suas restrições de mobilidade.

Só  que  a maioria  da  população  deficiente  desconhece  a  teoria  dos  novos modelos  e  a  gama de legislações vigentes, fruto da luta da organização

de seus próprios companheiros. Numa batalha  entre  conquista  do movimento  e  concessão  dos  poderes  públicos,  que  lhes  concedeu  a  oportunidade

de  sair da  invisibilidade, do  ser  considerado não humano, para o de cidadão com  direitos humanos.

A  pesquisa  proporcionou  a  revelação  de  que mesmo  no  âmbito  de  uma  associação  de deficientes que prima pelo desenvolvimento do modelo social

no trato à deficiência, a maioria de seus  associados  desconhece  esse  tratamento  e  continua  submetida  ao  modelo  médico,  que  a  estigmatiza como

incapaz com relação às demais pessoas.

Também detectou a ausência total ou  baixa de escolaridade por parte de muitos.

Fonte:inpasb

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